Último Romance.

 Inverno. Brisa gelada que insistia em bater na minha janela, pedindo um atalho para se perder, para esfriar, para me tocar os cabelos e me fazer tirar os olhos do papel. Brisa gelada que movia as cortinas também, final de tarde de junho e um céu tão lilás quanto as flores da primavera que ainda estava por vir e eu nem esperava. Eu nem sabia. Eu nem via.
 Olhei o relógio por um instante ou outro. Procurava uma hora que nem sabia qual. Procurava você alí. Procurava seus traços, seus desenhos, seus sorrisos e mais os abraços das noites de outono. Amassava folhas e as jogava fora. Mordia canetas e manchava a boca, fechava os olhos e o tempo não voava, como nos filmes. E eu nunca chegava aonde queria chegar.
 De repente, uns passos pelo corredor gelado. Já estava de noite e a única luz acesa era a de meu quarto, fechado, lacrado, como uma cena de um crime. Como se eu cometesse um assassinato contra mim mesma e me escondesse. Como quem procurava uma resposta. Você chegou. Você chegou assim. Abriu a porta e me olhou nos olhos.
 - Quer café? Acabei de fazer.
 - Quero. - Então, como num suspiro, você se aproximou. Me entregou uma xicará com café e por dez segundos, me olhou nos olhos como nunca havia feito antes. Você nem me conhecia. Eu nem te conhecia. Nem sei porque estavamos alí. Nem sei como cheguei aqui. Nem sei porque escrevi tantas cartas em minha mente apenas para poder te olhar assim e finalmente sussurrar.
 - Quer ser o meu último romance? - Mas se eu esperasse você me responder... Talvez eu nem escrevesse isso.

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