Livro em latim.

Era simples. A músicava tocava ao fundo e eles se olhavam.

Olhos perdidos, mãos perdidas e talvez alguns lábios também, que a levavam sabe-se lá pra onde, era um mistério.

A música continuava. Era uma letra um tanto quanto melosa, um tanto quanto expressiva, um tanto quanto apaixonada, como os dedos dela, que se apoiavam no livro velho, empoeirado e abandonado em cima daquela escrivaninha de madeira, tão velha quanto o livro.

- E quando vai acabar?

- Não sei.

- Esse livro é excelente.

- Sim, é.

- Concreto.

- Um tanto triste.

- Hm, eu diria melancólico. - E se calaram, outra vez.

A música continuava, o cheiro de mofo invadia aquela sala gelada, que só era aquecida pela velha lareira, acesa, com um fogo flamejante, tão vermelho quanto os lábios dela, que se apertavam. Apreensivos e em forma de reprovação.

Luz? Não, nenhuma, só a claridade do fogo. O sofá velho em um verde musgo continuava solitário, fazendo certa companhia para as estantes de madeira escura, cobertas de poeira e de livros antigos, justamente como o da escrivaninha, em seu titulo havia algo escrito em latim, quem poderia entender?

...

Ela entendia.

- O que está escrito aqui?

- Que as palavras nunca lhe abandonam.

- Sério? Gostei.

- Não gosto, elas já me abandonaram certa vez.

- E o que fez? - E se calaram novamente.

O que ela fez? Bem, ela acabou de fazer novamente.

- ...

- ...

E eram apenas suspiros. O barulho do fogo queimando alguns papéis velhos, a respiração afobada de ambos e até que se decidiram. Foram embora dali.

Com uma mentirinha basica.

O nome do livro? Ninguém sabe. Nem ela. Nem ele. Nem eu.

Mais todos somos personagens daquele unico livro, em latim.

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