Eram olhos azuis.

O instante perfeito em que ela me perde e seus olhos se amarram em outra direção.

A sensação estranha de estar naquele lugar me atormentavam, dia após dia. Ela sabia e eu não. Não sabia nada da vida, ela muito menos.

Conhecia aquela velha estrada. Minha boina, um tanto quanto empoeirada dançava no ritmo do vento, que batia sobre meus cabelos negros e os levavam. Alguns aceitavam o convite para acompanha-lo, outros continuavam ali, intactos e fortes, fazendo suas vontades.

Poeira ia, poeira vinha. Meu velho suspensório preto com detalhes em cinza apertavam meus ombros, me dando uma leve sensação de desconforto, de desconfiança, enquanto meus olhos continuavam fissurados pelo céu que por ali corria, de uma forma abstrata, parecia um tanto quanto prazeroso. Nuvens de algodão flutuavam e o azul lhes abraçava como um todo, como tudo e todos.

Meus sapatos, negros, empoeirados e velhos continuavam parados, acompanhando o ritmo de meus pés. Tanto quanto eu, meus sapatos observavam o horizonte, cercado de tanta poeira. Acho que eu calçava até demais, um tamanho 44 me confortava os pés, entretanto, deixavam minhas jornadas cada vez mais desconfortaveis.

Era simples, eu já era moço. Possuía uma barba rala, olhos atentos, cabelos não tão longos e vivia em meio a poeira.

Quando chegava a cidade, moças se encantavam pelos meus olhos azuis, tristes, que refletiam coisas que ninguém mais via. Ninguém além daquela moça que eu abandonei há um tempo atrás, na certeza de que ela só voltaria quando percebesse que ia me perder de novo e não me curei. A cidade não foi a cura. Nem os carros, nem as moças e nem a noite.

Continuava pertinente pela estrada de terra, paletó marrom pendurado por dois de meus dedos, nas costas, que combinava perfeita com a minha boina, mofada e velha, como todas as minhas outras coisas.

Aquele caminho parecia infinito, então tentei mudar de rota mais fui cair no mesmo pesadelo de antes... Saberia eu sobreviver agora?

Eu tinha olhos azuis, mais eram olhos azuis de tristeza... Tristeza de quem nunca teve a liberdade de viver o seu grande amor, seu grande sonho.

Eu suspirava e temia, terminando por fim, minhas cartas a minha amada de olhos castanhos como minha boina, que levava a lembrança dos beijos dela.

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