Horas. Horas e mais horas que se passavam lentamente, como quem não tinha pressa de chegar a lugar algum. A agonia tomava conta de minhas mãos e o caderno agora, já possuía seu nome em cada linha do mesmo. Eu tentei me controlar. Eu tentei não ligar. Eu tentei tanto mas nada consegui. Quem dera pudesse ter sido um pouco mais fácil, mas naquela noite, eu soube. Eu tive certeza. Tenho que ligar. Vou ligar. Devo ligar? Droga! Será que eu devo ligar? Seria mais fácil ignorar? Será que se eu não ligar, ela vai ligar de volta? E se eu ligar e ela ligar de volta num outro dia? Ah, que se dane! Eu vou ligar.
Disquei o número um pouco tremulo e engolindo seco. Não sabia muito bem o que dizer, mesmo que na maioria das vezes, eu sempre estivesse calmo nessas horas, mas hoje eu não estava! Hoje não. Não me peça calma, não me peça palavras, eu não tenho muito pra dizer, apenas o suficiente.
Apertei o botão para ligar e quando comecei a ouvir aqueles bipes compassados, senti a minha espinha congelar, a garganta secar e aquela sensação terrível de que alguma coisa poderia acontecer no instante em que ela pudesse...
- Alô? - Atender essa merda e interromper bruscamente os meus pensamentos.
- Olá! Tudo bom? - Tentei manter a calma mas acho que engasguei um pouco com as palavras.
- Oi! Não esperava que você ligasse. - Aquela voz... Ah, aquela voz.
- Eu também não esperava que eu ligasse... - É nessas horas que eu sinto raiva de mim mesmo, mas a risada do outro lado da linha, fez com que eu me acalmasse um pouco.
- Que bom que ligou.
- Sério?
- Sim... Eu estava mesmo esperando que você ligasse... Talvez eu não soubesse muito o que dizer na noite passada, talvez a gente pudesse conversar agora... Estava muito barulhento, não acha? - E riu mais uma vez, senti uma sensação extremamente agradavel, embora ainda fosse encomoda.
- Ah, realmente... Mas a banda estava boa, não acha? Digo... Eu me diverti... E você?
- Também, bastante! Eu não esperava aquilo deles, na verdade.
- Pra ser sincero, nem eu...
- Pois é... - E a falta de assunto. Talvez eu devesse falar algo útil pra quebrar o gelo?
- Você estava linda com aquele chapéu.
- Ah, obrigada! Gostou mesmo?
- Sim, fica ótimo em você, assim como qualquer coisa, érr... - Gaguejei.
- Está sendo fofo, apenas.
- Não, estou sendo sincero, pequena.
- Larga disso, eu não fico bem assim.
- Fica sim, você ficaria linda até de pijama, chinelo e com os cabelos bagunçados. - Senti meu coração apertar. Eu não estava mentindo. Ao meu ver, ela ficaria linda de qualquer jeito.
- Porque está sendo tão fofo?
- É que eu não esperava que tudo aquilo acontecesse. Eu queria que acontecesse de novo, sabe? Eu queria tentar.
- Quer? Porque?
- Porque é o que há, oras. Eu adoraria lhe acompanhar, seja na praia, seja na maré, seja no vento, seja em qualquer lugar. Eu ficaria feliz em segurar a sua mão e dizer que o sorriso estampado na minha cara era por sua causa. Eu ficaria feliz de estar ao seu lado sempre que você precisasse. Eu fico feliz perto de você.
- E pra que tantas palavras?
- Pra dizer que, pequena, se acontecer do amor existir pra nós, a gente é quem vai saber e não ninguém. Só a gente. Então me entrega esse jornal, senta comigo no café de manhã e vamos falar bobagens, depois eu te levo a pé pra casa, a gente vai cansar, mas no final, estaremos rindo, porque estariamos juntos e acho que já valeria a pena.
- Talvez nem tudo valha a pena.
- Mas vale a pena quando a gente quer, pequena. Se você quiser, a gente pode tentar fazer o mundo.
- Pode dar errado.
- E que dê! Quem se importa? Tá aí pra dar errado mesmo, pode ficar pior do que já está? - E a ouvi rindo novamente.
- Não mesmo.
- Então façamos o mundo da nossa forma e que os ventos soprem para nós. Deixe o resto pra lá. Vamos sair essa noite e a gente se entende.
- As oito?
- As oito.
- Sem hora pra voltar?
- Sem hora pra voltar. Te acompanho.
- Certo. E se o vento soprar errado?
- A gente luta para ir contra, oras. O importante é lhe acompanhar. - Sorri.
- Te vejo a noite.
E ela desligou. Não sei o que foi que deu em mim, não sei muito bem o que foi que aconteceu, eu só sei que eu gostaria de tentar e acho que ela, tanto quanto eu, também gostaria e se o vento soprar a favor, que venham as folhas de outono, as friagens do inverno, o sol do verão e as flores da primavera. Estaremos eu e a minha pequena e nada mais importa.
Noite de show.
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