Existem pequenos momentos que por mais que o tempo tente os varrer, estão fixos no chão da vida de quem anda por aquele apartamento. Estão presos, em molduras brancas talvez, com um efeito de uma fotografia antiga, a qual não se pode destruir e alguns, pendurados nas paredes brancas que são frequentemente vistas por visitas ou até mesmo por estranhos, mas nem sempre, pois existem portas que não se abrem tão facilmente e também quando se fecham para outros, é para nunca mais se abrirem e o inverno lá fora, acaba sendo um pouco mais gelado.
Na sala desse mesmo apartamento, há um sofá e um violão encostado no mesmo. Um violão antigo, com marcas da vida e que nos braços de uns e de outros, emitia uma música a qual nos lembrava que há muito tempo, já existiram razões para que cantássemos ali e as palavras proferidas, numa simples letra, talvez significasse bem mais. Olhos nos olhos. Um momento a sós. Aquela risada ao lembrar de uma música antiga e a sensação boa de estar se cantando aquilo que gostaria de ser dito. São risadas que percorrem os longos corredores e conseguem chegar aos meus ouvidos e que, sem nenhum esforço, fazem parte de mim.
Nos quartos, poesias e palavras grudadas nas paredes manchadas. Alguma forma de sair e esquecer as dores da vida. Poemas que já foram dedicados para tantas pessoas, poemas tão diferentes sobre mundos tão diferentes e lugares tão diferentes. Poemas tão reais e outros tão utópicos quanto os pensamentos que naquela cama, adormecem como se não houvesse um amanhã e no final das contas, aquela letra tão mal feita com aquelas rasuras tão grandes destacam que uma vez na vida, eu tentei sentir ou realmente senti, não sei, mas eu tentei. Eu juro... Juro que tentei.
Já na cozinha, a panela com uma certa quantidade de água ferve.
- O chá está servido.
Eu me lembro. Suspiros e uma volta e meia para darmos risadas e um bom dia na mesa.
A água que ali fervia para o café, já se ebuliu quase que por inteira e dela, nada restou, a não ser uma panela queimada que esperava por uma atitude a mais. Eu fiz isso também? Devo ter feito.
A bolacha ruim e mais algumas conversas de um domingo que parecia acordar melhor, que transformava a embriaguez do dia anterior, em mera consequência estúpida da vida e ainda me diz que no final desse livro todo, sempre existiu um marcador de paginas com uma caneta nova, para que eu pudesse retornar ou ao menos tentar marcar. Depois escrever. Escrever muito até me cansar de tudo.
O melhor de tudo é que você e já se foi. Uma parte só que eu nem soube escrever, que a gente nem tentou escrever, mas que nunca iríamos escrever de fato. Era um tudo e um nada e ao mesmo tempo, marcas de canetas borradas por toda a folha... A pagina que nunca soube virar.
Cama, livro e café.
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