Chico e poesias.

 Tô de olhos vendados. Ouço gritos vindo de umas duas ruas abaixo mas não sei ao certo de onde eles vem ou de quem são. Tenhos mãos atadas a minha cabeça e caminho com um peso nos pés, me torturando a cada passo e a cada pensamento diferente que insiste em me provar que eu deveria melhorar. Melhorar muito e até demais.
 O telefone toca, a voz no outro lado me chama de volta para a realidade. Uns ruídos de fundo e talvez algumas vozes distantes, barulho de copos, passos e um pouco de pânico. Ela me afoba com um leve gemido de seus lábios trêmulos que simplesmente perguntavam como eu estava. Um sentimento desconhecido se formava em meu estômago e borboletas saíam da minha boca com um pequeno e eufórico "estou bem" que me tomavam as palavras naquele instante. Suspiro atrás de outro suspiro. Não era assim que havia aprendi a lidar com esses tipos de sentimentos. Situações. O que fosse.
 A sensação de ter engolido estilhaços de vidro me toma a garganta e aquele gosto não tão amargo e nem tão doce de sangue me invade a língua tornando-me um pouco mais feroz, talvez medrosa também com leves suspiros e palpebras pesadas com pequenas flores diante dos olhos esverdeados. Ela me engana, me escreve e me apaga num rascunho tão frágil quanto o toque de seus dedos em minha pele seca e gelada. Me amassando os papéis e levando consigo as pequenas palavras de um poema que nunca se acabou. Decora as paredes com tintas azuis e um leve tom avermelhado, entra na minha vida porque quer e não sai de lá. Não porque não quer, é só porque não precisa se movimentar.
 Se eu soubesse bem, talvez não ouvisse Chico pra dar um gosto de poesia a minha vida.

Bookmark the permalink. RSS feed for this post.

Leave a Reply