Eram 16:05 em ponto e o calor intenso daquela cidade me queimavam a pele, que já estava em chamas e pronta pra ebulir a qualquer instante. O suor tão quente que me escorria no rosto agora se juntava a um pequeno círculo que se formava diante minha camiseta. Um nas costas, um em cada axila e outro na aréa do pescoço e os passos que antes pareciam ter um destino, agora já estavam lentos e perdidos. Eu parecia nem saber mais pra onde ia.
- Que porra, vou me atrasar de novo... Maravilha! - Resmunguei enquanto virava a cabeça procurando por vestígios do edíficio que eu haveria de encontrar. - E não acho essa merda.
Digamos que havia uma urgência e nessa tal urgência, eu precisava encontrar um prédio acinzentado com faixas verdes e eu, que sou péssimo com direções, não faço a minima ideia de onde estou. Moro aqui fazem 4 dias e sou convocado para uma reunião que decidiria meu futuro. Ou eu ficava nessa Cuiabá ou eu ia pra São Paulo e por incrível que pareça, já estava morrendo de saudades de Palmas. Sou Tocantinense, empresário falido e azarado, fodido até pelo cu e vamos dizer que talvez seja meio nômade, pois já morei em milhares de cidades e em cada uma delas, uma cagada diferente me fazia mudar, mas não era de propósito... Ou talvez fosse.
Um barbudo, na mesma situação que eu parou na minha frente.
- Ei! Ei você! - Ele virou sua cabeça rapidamente em minha direção, arqueando uma sobrancelha e parecendo estar desconfiado. Não sei se eu tenho cara de policial ou coisa do tipo, mas tenho quase certeza que esse cara tava com maconha no bolso.
- Então cara! Eu to meio perdido aqui, sou novo na cidade... Cê sabe aonde fica o Edíficio Australia?
- Australia?
- É! É isso mesmo! Pela descrição aqui, ele é acinzentado e tem umas faixas verdes... Cê tem ideia de onde fica isso? É empresarial!
- Empresarial? - Nesse instante eu já estava perdendo a paciência.
- Isso.
- Australia?
- É.
- Empresarial? - Porra, esse filho da puta tá chapado ou o que?
- Sim...
- Olha chefe... Sei não. - Me enrolou a porra toda só pra dizer que não sabia. - Tem um logo alí na frente, talvez seja esse... Ele é cinza.
- Obrigado! - Saí com passos largos e uma paciência minúscula na direção em que ele havia apontado. Apressei um pouco mais meus passos e o suor parecia estar triplicando, a paciência parecia estar se dividindo cada vez mais e o calor, quase que uma multiplicação de numeros infinitos elevada a milésima potência... Que porra de cidade quente.
Depois de andar uns quarteirões, encontrei um prédio bege com faixas verdes. Edíficio Australia. E quem foi o filho da puta que me descreveu que essa porra é cinza? É daltônico, só pode.
Entrei no prédio com uma certa pressa e fui logo em direção a secretária, que imediatamente me levou a sala do advogado Pereira. Esse tal de Pereira era amigo de um amigo meu que também já tinha problemas até piores que os meus e esse tal de Pereira o tirou das confusões, tornando-o um dos caras mais ricos do estado de Goias. Devo me arriscar?
Quando a porta se abriu, me deparei com um gordo de terno, bem vestido com um charuto no canto da boca e um sorriso irritante. Uma cara de sínico, um bigode à Francesa e o cabelo bem cortado com pelo menos um quilo de gel pra manter aquela palha tão arrumada como estava. Usava um par de Berluttis originais e um daqueles ternos caros que você vê na televisão, geralmente na noite do Oscar ou coisa do tipo.
- Ah olá! Eu sou o Doutor Pereira! Você deve ser o Amaral, amigo do Freitas, não é?
- Sim, claro! Sou eu, muito prazer. - Estendi a mão para apertar aquela mão áspera, limpa e cheirando a brilha cobre.
- Então Amaral... Sente-se aqui e conte-me sobre seu caso... O Freitas foi um cara muito sortudo em me encontrar, posso lhe afirmar que não há nada que nos impeça de ganhar isso... Controlo essa situação assim como controlo qualquer coisa ao meu redor! - E o filho da puta se achava...
- Pois é... Eu preciso acabar com essas ocorrencias e...
- Sabe Amaral, deixe-me te contar uma coisa... Tenho uma mansão na Califórnia e sou um cara muito feliz. Tenho sexo bom todos os dias, tenho filhos bonitos e saudáveis e uma filha que estuda Medicina em Harvard... Tudo o que eu tenho pode ser seu, se aceitar essa proposta. - Derrepente, ele já estava falando de outra coisa.
- Desculpe? Achei que iria me ajudar com essa ocorrencia...
- Ajudo... Te dou a vida que quiser... Se aceitar minha proposta.
A proposta foi discutida. Eu não tinha o que perder. Teria um salário bom, uma vida boa, moraria no Morumbi e seria feliz. A única coisa que eu precisava fazer era...
- OU VOCÊ DEVOLVE ESSA PORRA DE DINHEIRO OU EU EXPLODO ESSA SUA CABEÇA, SEU FILHO DA PUTA CALOTEIRO, CADÊ A GRANA DO PEREIRA, PORRA?
- TÁ AQUI, POR FAVOR! - O saco foi arremessado aos meus pés, com a pistola ainda na mão e o saco na outra, conferi com os olhos o numero certo de montes e verifiquei se estava correto.
- Muito bem... Tá vendo como é fácil negociar?
- SIM, MAS DEIXE-ME IR, POR FAVOR!
- Claro... É pelas portas do fundo...
- Obrigado! - O homem ia se levantando, trêmulo e pálido, com um fraco sorriso no rosto, arrancando outro do meu.
- Que você vai direto pro inferno, filho da puta. - Três estouros foram ouvidos e a cabeça do desgraçado só eram miolos, agora era só levar a grana de volta para o Pereira... Nunca pensei que matar gente por dinheiro pudesse ser mais divertido do que simplesmente matar e fugir. Que vida bela.
Café da tarde com o Pereira

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