C'est la vie.

 A cidade, vestida em branco pela chuva que a cobre, parece parar no instante em que não resiste a invasão das pequenas gotículas que insistem em cair do céu. De forma rapida, se espalhando por todos os cantos, deixando-a com uma expressão um tanto palida, apagando os horizontes distantes e trazendo para perto, a melancolia de se observar a coreografia que as gotas fazem ao encontrar o vento, tornando-se um só, algo molhado, refrescante e um tanto harmonioso, que cala o povo e continua a convidar a solidão para uma xícara de café durante a tarde.
 A luz dos raios que caem, invade os meus olhos, como flashes de uma maquina fotografica antiga, capturando cada minimo movimento, cada silêncio, cada pestanejada, cada olhar, sem perder um segundo sequer de minha expressão um tanto quanto desonrosa. Ela tenta captar o que há de errado, o que está por trás das minhas palavras, das minhas invenções e dos meus lábios. Não sei. Não vou levar ninguém a lugar algum com esses olhos apagados, que nada sabem, embora eu tente saber.
 Aí aquela minha velha mania de achar que "de-tudo-sei-demais" acaba por se revirar, tornando-se pequenas cinzas levadas ao vento, como se fossem enfeites para as coreografias chuvosas, que são acompanhadas pelo doce som da agua se rebelando contra o solo, depois se fundindo com a terra e levando consigo, todas as magoas de uma alma que se senta na sacada, com um velho charuto, um bigode francês e uma expressão de inglês solitário, que tenta contemplar a paísagem, respondendo em miúdos o que pra ele já foi o suficiente e agora não é mais nada.
 Daí, entende-se então porque eu tenho um velho bigode inglês, leio jornal em francês e fumo um charuto holandês, por isso meus sapatos são largos e marrons, classicos e desbotados. Não tenho olhos azuis não, não tenho muito a oferecer a não ser a minha sabedoria. Tenho cabelos brancos, gosto de whisky barato e escrevo contos sobre aqueles que nunca encontraram o seu lugar no mundo. E gosto de andar, desandar, de perder, de ganhar, de achar e de ler, mas não gosto de ter. Tudo o que se tem, tudo o que se perde, tudo o que se vai, tudo o que se volta e se fosse facil... Eu não seria poeta e nem falaria francês.

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