Infinito.

 Noite escura, noite tensa, noite esquisita com poucas estrelas no céu. A penumbra da lua ainda invadia certas janelas daquelas casas, também escuras, que não davam sinal algum de vida. O mundo todo estava adormecido entre as estrelas do céu e as luzes das ruas das cidades. Ninguém estava alí. Apenas eu. Eu mesma. Que permanecia sentada sobre a grama, que não estava verde mas sim, negra. Banhada com a escuridão toda que ocupava o céu no instante em que meus olhos insistiram em procurar refúgio. Não tinha muito o que se dizer, só que era o suficiente estar alí.
 Ouvi alguns passos pela grama e logo pude ouvir uma voz familiar.
- Não é um pouco tarde para você estar aqui? Digo, tem gente te procurando.
- Hm, não. Estou bem.
- Está bem escuro, não está com medo? - Ela continuou se aproximando e assim que já estava ao meu lado, sentou-se calmamente na grama, como quem não tinha hora para voltar.
- Não tenho medo de escuro. - Disse, sem mover os olhos que continuavam perdidos na imensidão daquela escuridão que parecia ser infinita.
- Tudo bem. - Calmamente, passou a observar junto a mim, a imensidão sem fim.
- O que você tá fazendo aqui?
- Não acho que esteja muito interessada em saber.
- Na verdade, estou sim. - Dessa vez, meus olhos foram ao encontro dos teus, que, por mais escuros que sejam, refletiam nitidamente a lua lá em cima, como se fossem espelhos, que roubavam aquele brilho todo.
- Acho que me cansei do que estava ocorrendo por lá e decidi vir ao seu encontro. Está encomodada com a minha presença?
- É, um pouco. Talvez devessemos nos calar. - Ela sorriu ao ouvir isso. Incrivel, mas ela sorriu e calou-se de fato, sem nem reclamar, sem retrucar e nem nada. Era uma garota maravilhosa, que prendia toda a minha atenção naquele rosto tão delicado, naquele sorriso tão feminino e naquela expressão de quem não devia nada a ninguém. Ela não precisava de uma beleza excepcional e nem de olhos verdes, afinal, os olhos castanhos dela combinavam perfeitamente com o seus cabelos, ondulados, que desciam seu corpo como uma cascata que cai prazerosa, deixando seu rastro por todo lugar aonde passa, como o cheiro dela. Talvez... Algum perfume qualquer mas não. O cheiro dela realmente me chamava a atenção também. Gostava até mesmo do all star branco dela, de cano médio, que combinava perfeitamente com aquela sua roupa, nada tão chamativo, mas que caía perfeitamente bem naquele corpo maravilhoso que ela tinha. Não sei o que havia de errado, o que havia de proibido, mas era maravilhoso o jeito com que ela absorvia a penumbra da lua, que invadia o seu corpo sem pedir permissão e ela deixava. Ela apenas deixava.
 Então, depois de tanto silêncio, a noite passou a esfriar cada vez mais, ela continuava ao meu lado e eu continuava com os olhos fixos, procurando algo que parecia não me satisfazer e tudo continuava, do mesmo jeito, no mesmo ritmo, até que as estrelas foram dando espaço e o céu imenso pareceu crescer mais um tanto. A lua passou se aproximar e enquanto aquelas vozes que vinham junto ao vento, insistiam em sussurrar desgraças em meu ouvido, senti os braços dela me envolvendo lentamente, não tirei meus olhos de lá, mas levei uma de minhas mãos até a cintura dela e envolvi-a, puxando-a delicadamente para mais perto de mim, ela fechou os olhos e passou a me apertar mais em seus braços, seus lábios se tornaram um só, enquanto encostava sua cabeça em meu ombro, procurando conforto, procurando palavras.
 - Então é assim? Eu vou me apaixonar e as coisas vão ficar assim?
 Ela não respondeu, continuou em silêncio enquanto me apertava um pouco mais e quando percebi, já estavamos abraçadas no meio da noite, perdidas nas gramas escuras de uma madrugada qualquer, perto de alcançar o infinito dos céus, o qual eu queria navegar. Lentamente. Para encontrar outro sorriso como o dela.
 - Obrigada. Obrigada por me deixar te amar. - Sussurrei enquanto beijava o topo de sua cabeça e inspirava, com delicadeza, o cheiro de seus cabelos ondulados e castanhos, lindos como seus olhos e ela sorriu, novamente... Aquele sorriso, aquela noite...
 "She was the one to hold me the night the sky fell down."
 Então, a imensidão toda nos envolveu e quando o céu veio a desmoronar sobre nossos olhos. Sorrimos. Porque estavamos ali, porque estavamos juntas, porque ela era a unica que havia me abraçado na noite em que o céu se despedaçou.

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