Meu último adeus

 Desde que você se foi, eu não pude encontrar pensamentos que pudessem descrever todas as sensações que passaram a me dominar a partir do momento em que atendi meu telefone e a Fernanda havia me contado sobre o que havia acontecido. Nunca houve um despertar tão abrupto quanto ouvir aquelas palavras dolorosas, sobre você, sobre alguém que nunca havia fechado a janela para todos aqueles que pediam pra entrar. Você, Laire.
 Sinto um vazio tão grande no peito, uma tristeza enorme disfarçada de raiva, angústia, de egoísmo que poderia ter sido transformado em atenção para poder salvar a sua vida. Para poder tentar voltar no tempo e te trazer de volta, trazer o seu sorriso, suas palavras, seus confortos e todas as fotografias que tiramos em uma noite tão viva, tão única, pedindo para que o tempo nunca parasse. Vivendo entre risadas e amizades, um passado não tão distante, mas que agora soa como anos, décadas, séculos... Soando como saudade do que poderia ter sido amanhã.
 O que foi que aconteceu? Você, tão pálido, tão sério, tão não sendo você, sem aquele típico sorriso de quem sabia de tudo, mas que experimentava a vida com gosto, com simpatia e com um coração caloroso. Eu queria ter tocado sua mão, pela última vez, mas senti medo de você estar frio. Você nunca esteve frio. Era tão quente, estava sempre suando, sempre correndo, sempre em movimento, sempre jogando. Não era você. Você era melhor, maior, único. Você não se foi, você não está dentro de um mármore agora com apenas o seu nome gravado nele para uma breve lembrança. Você está aqui, caminhando, dentro do meu peito e me aquecendo com palavras doces, mudando todas as noites de chuva em dias quentes de verão.
 Não queria dizer adeus. Nunca quis. Pensei que de todos, você seria o último a partir. Achei que você fosse viver mais uns trezentos anos, só pra espalhar as suas bobagens pelo mundo. Pra escorregar em palavras sinceras, pra experimentar a vida como ela é, não como ela poderia ser.
 Dói pensar que você se foi.
 Não queria nunca te dizer adeus.
 Mas eu quero que essa carta esteja perto, para que num dia de chuva, todas as minhas palavras se derretam sobre seu nome e você possa sentir, onde estiver, saiba que todos aqueles que estiveram por perto naquelas noites, sentem sua falta como nunca. Que você era um amigo excepcional e que todos admiravam a sua bondade. Quero que saiba, no seu coração, com todas as minhas palavras tatuadas e escorregando pela sua pele, quente. Não quero você frio nunca mais, Laire. Nem sério.
 Descanse em paz, pra sempre. Continue sonhando com tudo o que você vai fazer enquanto estiver em outro mundo, não sei, eu só sei que vou continuar acreditando que a sua viagem será longa e que talvez não te veja novamente, mas que receba um postal de vez em quando pra saber quão maravilhoso o seu mundo é. Eu, pelo menos, espero que seja agora.
 Sua cicatriz estará na minha pele, eternamente.
 Boa noite, Laire. Continue dormindo que isso tudo só foi um pesadelo ruim, agora o sonho é doce... Doce como todas as nuvens em que você está descansando agora... Obrigada. Obrigada pela cicatriz mais sincera e doce deixada nesse rascunho tão sombrio.
 Durma bem... Amanhã, o sol vai voltar a brilhar... Por você, ele vai.

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