Tóquio.

 O barulho do vento batendo na janela, acompanhado com os últimos gritos do trabalhadores que retiravam algumas coisas das ruas.
 Falavam algumas palavras tão rápidas que dificultava um pouco mais a minha compreensão, já que sentia a diferença de estar presente em um local aonde o meu idioma natal nem sequer era citado pelos nativos daquele país. Engoli seco, colocando de lado a papelada, misturando-na com o resto da bagunça que estava alí por aquele quarto tão estranho, com paredes diferentes das quais eu costumava acordar e observar nas manhãs de segunda- feira.
 Levantei-me calmamente e com curtos passos, caminhei até a grande janela. Os gritos daqueles trabalhadores já haviam se silênciado junto com aquela noite tão estranha para mim e tudo o que restava lá fora, eram os ventos. Ventos com perfumes diferentes dos quais eu estava acostumada a sentir.
 Um barulho suave acompanhava o ritmo desses ventos, meus olhos se deslocaram até o possível esconderijo dessa "canção oriental" e para a minha surpresa, um pequeno penduricalho, o qual eu não sabia nem o nome, balançava, agitado com as ondas de vento que lhe agrediam o descanso e como num piscar de olhos, mudava suas direções, respostas e intenções, como quem talvez, soubesse bem mais do que eu.
 Então, algumas luzes coloridas que de longe passaram a chamar a minha atenção, sinalizavam uma torre muito alta, imponente, como se fosse um rei que tivesse os olhos em toda a cidade e pudesse desvendar cada movimento de cada um de seus servos que passavam por alí ou que jantavam em suas casas, com sua família ou aqueles que assim como eu, estavam sozinhos e sabiam que talvez não estariam juntos de alguém por um bom tempo.
 Suspirei e hesitei, enquanto me lembrava de que aquela torre, me lembrava as luzes de São Paulo. Me lembravam a paísagem que eu havia visto ontem a noite, na maior cidade do meu país e que me traziam recordações estranhas, descritas em minhas memórias e em cada folha de meu caderninho vermelho, que me acompanha desde sempre, em cada aventura minha.
 Eu estava cansada. Muito cansada. Mas não conseguia desprender os olhos daquele brilho avermelhado que vinha de longe. Haviam sido mais de vinte e quatro horas de voo e cá estava eu, pensando em tudo que poderia ter sido mas nunca fora, talvez até mesmo criando algumas hipóteses para uma nova vida em Tóquio, que me arrancava um sorriso confuso.
 Seja Tóquio ou seja o Japão, eu sei que havia muito mais, por isso me deitei no chão de meu quarto e com as luzes apagadas, adormeci profundamente numa dança de silhuetas que eu desconhecia e nem sabia se poderia acordar amanhã ou continuar assim... Como quem não precisa de outro dia.

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