Já parei pra pensar se deveria ficar simplesmente deitada nessa cama por um dia inteiro e ver as coisas, as pessoas, os carros e a cidade se mover em camera lenta pela janela, ver os repetitivos movimentos do sol durante uma tarde inteira e não pestanejar para não perder um segundo sequer de cada passo dado por essa rua, que poderia me levar para o final da cidade ou para um paraíso qualquer... Um puteiro qualquer.
Tento porque teimo. Não há caneta que escreva um conto sem uma palavra, sem um sentimento besta ou uma mera ilusão de alguma coisa que pareça ser fácil de se imaginar... Ou que seja impossível, tanto faz, porque no final das contas, o céu azul vai acabar se tornando negro e num piscar de olhos, o dia amanhece novamente, com pequenas pinceladas lilás e um pontinho de azul claro como no fundo dos olhos da menina da padaria... Que pena.
O cigarro está ao lado, as fotografias na parede são quase irrelevantes... Eu penso em tirar todas elas, em colorir cada pedaço desse quarto com um pedaço de quem já se foi ou de quem está por vir. Pensei em tirar os móveis do lugar, jogar fora a televisão, deitar no chão e com poucos acordes, montar uma simples canção sem pensar em nada. Nada além de nada. Nada além das vozes que lá fora pareciam indicar outra dimensão e eu simplesmente não podia entender. Não entendia nada. Não porque era japonês, nem se fosse chinês ou até mesmo português... Não entendia nada porque não entendia ninguém. Só o violão.
Mudei a sala, como num pequeno jogo lógico, o quarto se transformou no banheiro, a sala se tornou a cozinha, que se tornou um quarto e quando passava das quatro horas da manhã, já não era mais nada. Não haviam mais peças que se encaixassem em cada buraco daquela cidade que eu observava hoje cedo. Eu quis levantar, apenas pensei em levantar... Mas no final de tudo, eu passei olhando, com grandes intenções os longos passos daquela menina de cabelos encaracolados... Como os de Caetano Veloso.
Uma crônica sobre uma tarde entediante de Novembro.

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