Meu eu.
Meu pequeno e inútil eu sentado nas pedras que já estiveram dentro de um rio.
Meu tão estranho eu. Indiferente. Submerso eu, sufocado eu, cego eu, tanto eu que não me restou outras palavras a não ser eu-inútil, eu-perdido, eu-sozinho. Eternamente eu-sozinho.
Meu eu tentava ler mais uma vez ao pequeno príncipe, mas o meu eu não sabia enxergar mais nada além de vastas luzes que se afastavam cada vez mais e quase que em um universo paralelo ao meu, eu não via mais nada além de uma noite escura sem estrelas, com cheiro de chuva, com cheiro de destino e uma brisa quase que irrelevante.
Me questionava.
- Meu eu, o que eu faço agora? - Mas o meu eu nunca me respondeu nada.
- Meu eu, pra onde eu vou agora?
- Meu eu, não consigo enxergar.
- Meu eu, a chuva vai cessar?
- Meu eu, quando o sol vai nascer novamente?
- Meu eu, quem sou eu?
- Meu eu, aonde estou?
- Meu eu, meu eu, meu eu, meu eu.. - E repetia isso tudo pela eternidade.
Meu eu estava tão triste que nem sequer me respondia mais... Eu costumava ouvi-lo toda vez que a razão não fizesse mais sentido e a emoção não me levasse a mais nada... Meu eu tinha uma solução que me fazia suspirar lentamente e forçar um sorriso torto. Cadê o meu eu?
Meu eu tá perdido como eu. Meu eu não tá mais comigo ou se está, tornou-se mudo e eu tornei-me cego.
Embora não enxerguemos mais nada, meu eu entenderá que há um dia para nossos pequenos passos e marcas de dedos espalhados pela terra seca, avermelhada. Meu eu sabe tanto sobre tudo que já eu, não saberia nada se não fosse por ele. Meu eu me ensinava todos os dias, com passos duros e o suor no rosto, encarar as ameaças naturais de uma trilha que parecia fazer sentido... Mas agora que o meu eu parou pra descansar e nunca mais voltou, minhas pernas perderam a capacidade de se locomover, de se levantarem e continuarem seguindo... Meu eu se tornou um nada, assim como eu, meu eu fracassou. Meu eu caiu. Meu eu se embriagou... Meu eu frequentou botecos... Meu eu se odiou eternamente... Meu eu se amou...
Mas o meu eu... Me abandonou... E agora... Se não tenho mais os sentidos...
Meu eu sempre repetiu... Mas eu nunca escutei que o meu eu sempre tinha razão...
Há sempre uma razão pela qual eu escolhi andar sozinha esse tempo inteiro... E continuarei andando...
Até o meu eu... Até o último suspiro.