Aprendiz de melancolia.

Era uma vez, um certo aprendiz de melancolia.
Todo fim de tarde, se perdia pelos bares da cidade.
Acendia seu cigarro, encobria-se de fumaça, inspirando e suspirando-a, se calando.
Escrevia poemas e recitava-os, sozinho, para que apenas a solidão pudesse lhe dar ouvidos. E de fato, lhe dava.
Dizia, cada minima palavra, em forma de melodia, rimava, se inspirava, escrevia, apagava e continuava com aquelas memórias.
Era admiravel seu talento para a solidão. Fazia dela sua melhor amiga, sua melhor amante e deixando de lado os pequenos fragmentos de seu passado. E tragava novamente.
Suas lágrimas já haviam secado ha tempos. Dizia ele que nunca se sentira só, que se vira bem e dava cambalhotas, girando e girando, perdendo o seu tempo.
Voltava a escrever. Com belas palavras, de forma melodiosa, dizia e insistia naquilo que chamava de realidade e por fim, não era.
Não era a toa que gostava do frio. De fumar seu cigarro na janela de casa, espalhando a fumaça pelo vento gelado que soprava de algum lugar, aonde provavelmente gostaria de estar.
E por mais que fosse tão solitário, ele tinha seus caprichos, ele tinha um amor.
Lhe escrevia cartas e mais cartas e as atirava nessa grande dor, implorando pela morte, para apagar tanta tristeza.
Escrevia para o vento, atirava-lhe as palavras e o vento as levava consigo porém, nunca fora capaz de retribuir tal sentimento com tanta intensidade.
Era de se esperar. Era de se apaixonar. Era de se iludir.
Em meados de maio, fugia da total realidade para fumar seu cigarro em um ambiente novo, tal como um bar.
Naquela escuridão do clube da solidão, todos se escondiam atrás daquela magica fumaça, que lhes dava um certo ar de calmaria e não era bem assim que funcionava.
A bebida, muitas vezes, ingerida, ia para o lugar errado e seus poemas, caíam em mãos erradas.
Eram erros atrás de misérias, lágrimas atrás de decepções e o pior de tudo: a lagoa das decepções.
E era ali aonde ele vivia, afogado, afobado, tal que nunca se fechou os olhos.
E quando se fechou, parou de respirar.
Viveu assim, entre fumaças e suspiros, inspirando a solidão.
Parando de respirar, devagar, devagar...
Fundo, frio, falante e frágil.

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