Querida L,
Venho através dessa carta expressar o meu descontentamento em relação as suas atitudes ultimamente, tendo em vista que muitos de seus passos parecem estar realmente embriagados e em direções completamente opostas das quais você pretendia seguir há um tempo atrás. Devo dizer que não reconheço muito de sua personalidade, já que para tal, mudastes da água para o vinho de uma forma trágica, desmoronando pontes, muralhas e o que fosse preciso pra alcançar o seu tão almejado objetivo, obviamente porque és teimosa demais pra se dar de até onde deveria ir, embora sua persistência seja algo positivo quando relacionada a outras coisas.
Vejo você de bar em bar. Bêbada. Cambaleando com medicamentos controlados na mão direita e uma garrafa de cerveja na mão esquerda. Pálida e esquálida como nunca, uma síndrome de quem perdeu toda coloração e a vontade de caminhar pelas pedras amarelas que costumavam constituir o seu caminho. Deixou na mesa a sua caneta. A caneta predileta, a caneta que tudo escrevia, a caneta dos lenços e contos, a caneta dos desabafos. Deixou no canto, vomitado e mal acompanhado, um violão quebrado e desafinado, sem saber fazer acordes, sem saber cantar tão suavemente como antes. Deixou no balcão a mochila verde, cheia de todas aquelas coisas que faziam sentido, agora parecem estúpidas e fúteis.
Que te aconteceu?
Estás embriagada demais pra ver? Pra entender?
Bastasse uma ligação, você estava lá, caminhando de pés juntos nas areias das praias nojentas e cagadas de Santos.
Que te aborreceu?
Quanto peso é esse que carrega pra tão longe desse lugar tão profundo que chegastes?
E o que diria Mars? Phobos? Deimos?
Seus sonhos?
Todas as respostas foram bombardeadas por um momento, um instinto, um abismo em que você escorregou e caiu.
Ninguém te viu, ninguém te vê, tu também não quer que te vejam.
É estranho demais querer morrer sozinho, mas é bonito de se ver.
Que nasce, fode, morre, tudo num ciclo infinito dessa grande merda que chamamos de vida.
E você, L? Vai pra onde?
Continuar vagando de bar em bar? Procurando não achar?
Procurando entender? Envelhecendo meses em dias?
Quem é que amas tanto que fumas cigarros baratos?
Uísques, noitadas?
Te perdestes no meio do caminho.
Eu também.
F. F.
Embriaguez

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