Floresta de espelhos

 Parando para pensar em tudo o que já poderia ter acontecido, encontro-me em um momento muito indelicado de minha estranha existência. Encontro-me querendo descobrir a verdadeira razão da tremenda fraqueza e estupidez do próprio ser humano. Encontro-me perdida em meus devaneios, com meus litros amargos de uísque barato, cigarros de terceira, e uma voz rouca depois de se cortar as pequenas defesas existentes em meu organismo pálido. Um gole para afagar os meus cabelos, outro gole para a inexistência das suas palavras sinceras.

 Tenho cabelos mal cortados. Uma cara pálida, bochechas levemente rosadas por conta do álcool que transborda pelos poros da minha pele tão seca. Tenho três mentiras, um terço da verdade, cinco copos de ilusão, duas doses de realidade, e pelo menos umas cinquenta doses de dor. Dor intensa. Dor interna. Dor externa. Dor de você. De mim. De tudo o que nós enxergamos durante um dia de sol e chuva na cidade mais quente da América do Sul.
 Temo que estejamos embriagados com nossas mentiras. Temo que você já esteja translúcida o suficiente para que eu possa tomar, de uma vez por todas, todo o veneno encontrado nas suas veias tão estreitas. Temo que a estrada não nos leve aonde pretendemos ir. Temo que o carro quebre, você me abandone, o mundo gire, eu permaneça só em uma floresta escura de pesadelos, temendo a luz do dia, os olhos avermelhados que insistem em triturar os meus ossos tão mal cuidados, os meus dedos sujos, cobertos por tudo aquilo que um dia você deixou, e depois pegou de volta, partiu. Nunca mais voltou.
 Acho que seja relativo. Ninguém se ajuda no mundo selvagem em que nós vivemos. Histórias são pequenos contos em cadernos mofados no fundo do armário daquele que já pôde sorrir como uma criança. Contos de fadas são máscaras para a tristeza eterna que um vazio leva para se entreter. Você me vê assim. Como um conto de fadas para acrescentar palavras em seu diário, dias em seu calendário, momentos em seus olhos, tristezas em seus poros. Para quê? Nós precisamos disso?
 Caminhar sozinho é simples. Não preciso de aura. Não preciso de nada, de alma, espirito ou qualquer coisa que insistam em me enfiar apenas para me venderem aos jornais. Preciso de palavras, álcool, chuva nos domingos de manhã, umas doses de qualquer coisa, uma caneta, um boteco, poesia de boteco, violão com uma corda a menos e um coração inexistente.
 Temo que saiba que talvez, eu não seja o que você tanto queira. Temo que saiba que sim, eu ando sozinho.

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