As vezes, quando a saudade é tão forte que não se pode nem ao menos guarda-la em um pequeno pote de requeijão, eu paro para pensar em como poderia projetar uma maneira bem simples e fácil de te ter sempre por perto.
Eu faço cálculos. Eu escrevo coisas, faço desenhos, rascunhos e rasuras de uma invenção qualquer que poderia me fazer quebrar os relógios de toda a casa e simplesmente me deitar contigo no passar das horas... No movimento dos segundos, nas transições dos minutos e no mudar das pequenas luzes que começam a se acender do lado de fora da minha janela pálida. Eu vejo segundos, vejo décimos de segundos, vejo você e não encontro soluções.
Poderia ser simples. Como uma roda gigante que continua sempre buscando o seu destino. Destino inalcançável, que parece escorrer por entre seus dedos metálicos que escondem uma ferrugem de alguns anos atrás. Poderia ser como grandes engrenagens que giram e não precisam de apoio para se movimentar lentamente e dar vida a mais uma de suas loucuras... Dar vida a um objeto inanimado e totalmente calculado por pessoas como eu, que erram todos os números, que não encontram acertos.
Eu, poderia inventar para você, flores de engrenagens. Porque elas enferrujam e depois são trocadas. Porque elas não morrem, não se perdem e não possuem beleza. Eu poderia ser assim, composta de engrenagens velhas e calculadas, você poderia sorrir, poderia aceitar e se apaixonar pelos meus movimentos tão contínuos e calculistas. Eu poderia ser assim.
No entanto, eu lhe entrego flores, um abraço, uma pele, uma noite quente e todo aquele sentimento que as engrenagens não conseguem definir. Eu entrego a você aquilo que está subjetivo diante de todos os meus ossos. Uma essência com gosto de limão que procura a sua essência com gosto de maçã.
Eu, que quero tanto e não tenho nada, que só quero você. Eu, que quero inventar, formas pra te ter. Eu que quero você.
Nós. Nós que inventamos nosso amor. Nós que não somos engrenagens e sim, pura essência.