Sinto meu corpo boiar em uma banheira cheia de ácido.
Ácido do pior tipo, corroendo a minha pele até chegar aos meus ossos. Ácido que faz com que meus olhos ardam, que tanta dor escondida se torne irreal, que as magoas descritas não existam.
Ácido que faz trabalho de matar quando não se pode. Ácido de cor azul.
Ácido que corrói cada página de meu caderno, destruindo todas as palavras que escrevi justamente para que ela possa entender o quanto me importo. O quanto sinto. O quanto suas dores fazem parte de cada mínimo pedaço meu, que se torna inexistente no momento em que ela toca a ponta de seus dedos em minha pele.
O que sou? Um frágil ser humano? Banhado por ácido, sangue, lágrimas e tristeza? Melancolia?
Poeta de boteco, de rimas fracas, erros grotescos de língua portuguesa, típico romântico não assumido que vive de viver, fazendo as coisas de forma contrária. Mero poeta sem coragem de trovar.
Tenho em minhas mãos, além de ácido, um pouco de seu cheiro, e em minha mente, revejo cada cena como se fosse um filme em branco e preto, aonde eu pudesse dar pause a qualquer momento, esperar, suspirar, não chorar e não respirar com meus pulmões inchados. Sou parte de um experimento fracassado, aonde a minha verdade era estar só, em busca de nada, ao encontro da vida, sabe-se lá do que exatamente, totalmente perdido em tanta confusão, tantos semáforos, tantos carros, coisas impossíveis.
Você, de mãos abertas, braços longos, sorrisos curtos, trouxe de volta todo aquele blá blá blá desprezado por mim. Voltou a andar em minha vida como se não houvessem ressentimentos, o passado estava no passado, agora eu vivo de dias atrás. Vivo de coisas que me acomodam a alma, me fazem dormir, tirar um cochilo em meia lua somente para poder dedilhar no meu violão ao amanhecer.
Não sei o que sou, o que espero, sinto dor. Dor de te ver partir, dor de correr contra o tempo para fazer algo, lhe trazer de volta, dor de antecipar uma rejeição que já me aconteceu antes, dor de não tocar as suas mãos, dor de não te ter presente em meu destino.
Ácido, me corroa. Tire essa dor, traga aquela menina de cabelos a la Caetano novamente para remar comigo, me diga que sou errante, errônea, perdida, péssima de rimas, mas faça com que ela volte...
Infelizmente, o ácido só me corrói até que nada mais exista.
Há ainda de se dizer que existiu muito, mas aonde existe muito, se é substituído por tanta dor?