Olhos negros

 Seus olhos eram negros.
 Como a noite, uma escuridão em meio aos risos desconhecidos, a fumaça do cigarro que apagava letra por letra do que havia escrito em um guardanapo velho.
 Talvez fosse eu, a embriaguez de meus passos, os olhos cansados que não enxergavam mais, porém uma voz soou como um estalo de trovão. A tempestade, que me sufocara a alma em um momento distante de qualquer outro.
 Um par de pedras negras e geladas, me olhavam dos pés a cabeça. Seus cabelos bagunçados se entrelaçavam com a brisa gelada daquela madrugada. Eu e ela, ela e eu. Que eu não sei quem era.
 Meus olhos se fecharam lentamente, seus lábios se moviam. Eu ouvia o que ela tinha a dizer, mas ainda não sabia quem era. Marcas de uma outra história como tinta na sua pele, puro veludo, coberto de palavras que eu não conhecia. Eu nem a conhecia.
 A partir do momento em que seu colo repousei, suas mãos tocavam meus cabelos como quem tocava um doce instrumento. Sua aparência, dizendo o contrário do que era, as pedras negras que se tornaram vermelhas, sua pele, que era veludo frio, agora era quente. Parecia o suficiente para me sentir em casa, eu respirei. Devagar. Nos braços dela, eu soube suportar.
 Que era eu, perdida em um destino qualquer, me encontrava nos seus agrados, beijos e carinhos. Como se estivéssemos perdidas por muito tempo, como se toda fumaça desaparecesse diante de nosos olhares.
 Agora, seu olhar era mais terno. O seu cheiro era diferente. Os seus cabelos, continuavam sempre bagunçados, porém caíam perfeitamente com a sua feição. Haviam sorrisos mais frequentes, as noites frias eram melhores pra se ouvir as canções de antes, mas sempre perdida nos olhos dela.
 Não me perca, eu não te perco. Não nos perdemos mais.
 Enquanto ela se transformava em quadros, eu me transformava em poesia e a gente se complementava como cada traço pequeno de uma obra de Picasso.
 Você pra mim.
 Eu pra você.
 Ma belle.

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