Ironias da vida

 Sentei-me na sacada de casa, apenas para observar a poeira que cobria a cidade nessa segunda-feira tão monótona. Levei comigo uma garrafa de água com gás, já que estou em um momento aonde penso estar saudável, sem pensar em sequer nenhuma cachaça, e voltei a pensar em todas as merdas que meu cérebro tem acumulado nesses últimos tempos. Fico me perguntando quanta merda é merda o suficiente pra me deixar insana, maluca, sem saber para onde correr, para quem pedir ajuda. Merda é merda em qualquer lugar, qualquer hora, há merdas que são mais gostosas de se dizer.
 Pensei em como minha vida, não muito significativa, sendo apenas uma em sete bilhões de pessoas no mundo inteiro, não fazia muito sentido. Pensei em como a realidade era chata, em como as palavras me envolviam, me abraçavam as mágoas, as frustrações, me atiravam de um penhasco de sensações para um mar de alívio, aonde eu pudesse respirar debaixo d'água, sabendo que haveria sol no dia seguinte. Pensei em como amei essa literatura, que parece nem me pertencer mais, que parece ter sido substituída por toda babaquice diária que preciso enfrentar. Pensei muito, pensei circularmente.
 Eu deveria mesmo é me afundar nos pensamentos de Freud e fingir que sei de alguma coisa que se instala em cada inconsciente. Deveria mesmo era suspirar, recuperar a fé na humanidade e escalar o Machu Picchu com unhas e dentes, mas não vou fazer isso. Definitivamente não. Definitivamente não presto pra isso, ver a cidade com capas de poeira parece-me mais interessante, assim, toda essa poluição se instala em meu organismo imundo, o qual trabalha como um mecanismo para me manter viva dia após dia, apenas porque precisa fazer isso. Quem é que mandou? Eu não mandei. Nem me lembro de quando comecei a respirar.
 Em horas como essa, tenho vontade de menosprezar tudo ao meu redor. Tenho vontade de matar pessoas, não assistir o mesmo filme de cenas desastrosas em minha mente, não ouvir mais falar de tanta coisa que me causa tanta frustração. Como posso saber? Como posso entender? Como poderia ser uma máquina, para apagar todas essas sensações, imagens, sons, ruídos, porras e pensamentos? Como as coisas poderiam fazer sentido? Eu juro que não entendo. Juro que não sei. Embora todos digam ser simples, eu não acreditaria nisso tão bem.
 As coisas são simples para pessoas que não são como eu. Não sou especial, porra nenhuma dessa coisa e tal. Mas eu penso muito, calculo tudo, tudo é muito matemático no mundo aonde eu vivo, sentimentos existem, são calculados, possuem uma explicação, e pro que ainda não sei explicar, eu tento descobrir, buscar respostas, mas tudo é muito certo. Algumas coisas variam, as estatísticas mudam, mas a certeza é de que sempre vou chegar a algum lugar, importante ou não, por um caminho ou outro, passa a fazer sentido.
 Enfim, descobri que preciso de um psicólogo, terapia, cachaça, um desentupidor de privadas para jogar toda essa merda pela janela dos meus ouvidos. Afinal de contas, por que é que alguém teria uma pele de aço?

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