Super herói

 Quem nunca quis ser de titânio?

 Ter a pele toda revestida por um material quase indestrutível, resistente a corrosões, colado no lugar da sua pele, protegendo o seu interior de qualquer pessoa, qualquer situação, qualquer ameaça que lhe sirva de medo.
 Ter os órgãos de papel, amassados por um tempo de vida indeterminado. Alguns já poderiam estar rasgados, como por exemplo, aquele que lhe poupa toda a energia necessária para que se possa sentir alguma coisa, ou alguma compaixão por alguém, o que não atrairia ninguém, porque compaixão é clichê. É coisa de gente sentimental demais.
 Ter a capacidade de proteger os que ama. Evitar todo os perigos da vida. As aventuras seriam como nos gibis, um super herói salvando a sua cidade novamente. Tendo o carinho de todos que por ali vivem e acreditam em seu trabalho. Dormem em paz por saber que vão acordar no dia seguinte porque você esteve lá, em cima da torre mais alta da cidade, observando com atenção a movimentação de carros, de aviões, trens, e uma carta que você nem sequer soube escrever.
 Voar pelos céus e combater os seus inimigos. Ser o mocinho ou a mocinha, encontrar alguém especial que realmente queira estar contigo pelo resto de suas inúteis e inocentes vidas. Ter olhos atentos na hora de fazer amor, sair na calada da noite pois o perigo se aproxima, evitar todo aquele romance que antes lhe parecia sólido para proteger quem ama... Quem nunca sonhou em ser um super herói?
 Mas, infelizmente, não somos de titânio. Não temos super poderes que combateriam todo o mal. Não temos nem sequer um bom caráter, quiçá a vontade de proteger aqueles que nem sequer conhecemos. É tudo muito utópico vindo desse mundo, sendo que na realidade, temos vontade de destruir tudo, e migrar para outro planeta bem longe de nosso sofrimentos. Vivendo a triste realidade a qual somos submetidos todos os malditos dias. Uma história e três violas para nos alegrar nos finais de semana, e a vontade de ser super herói, guardada na dispensa dos fundos.
 Somos tão frágeis quanto um papel amassado, prestes a rasgar. Somos feitos de cicatrizes, escritos antigos, somos como livros de um sebo esquecido na rua mais escura da cidade. Temos um passado que é impossível de ser apagado, temos histórias, contamos-nas para os outros. Possuímos sonhos, um universo paralelo só nosso aonde podemos ser quem gostaríamos de ser. Vontades pequenas, desejos bobos que constituem cada um como deve ser. Somos partes de nossos livros, somos escritores natos que narram seus fatos a partir de tudo aquilo que já lhe surgiu a mente. Somos egoístas, mentirosos, mesquinhos, esnobes, manipuladores... Sadomasoquistas.
 Somos o que nos ditam para ser e, infelizmente, para nos salvar, não há um herói. Não dessa vez.
 Nem para todo o sempre.

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